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SOBRE CRIATIVIDADE

Certo dia, fui surpreendida por minha filha de dois anos com a seguinte queixa: — Aponte meus lápis, por favor. Peguei o apontador que tinha e, prontamente, comecei a apontá-los. Tudo corria bem até o terceiro lápis, quando o apontador parou de rodar. Tentei mais um pouco. Nada. Tirei a caixinha, abri para ver se alguma ponta estava enroscada na lâmina. Nada. Foi então que me lembrei da minha infância. Sempre que isso acontecia, usávamos a desculpa perfeita para improvisar um estilete com uma caneta BIC. Mas não. O objetivo ainda era apontar os lápis da minha filha. Com o apontador desmontado nas mãos, fui até a cozinha. Peguei uma faca de serrinha, girei o mini parafuso até soltar a lâmina. Depois, levei-a até a pia, abri a gaveta onde guardo o amolador de facas e afiei a lâmina do apontador. O verdadeiro desafio veio depois: recolocar a lâmina no apontador. Não por causa dela, mas por causa do mini parafuso teimoso, que não encaixava de jeito nenhum. Tentei por uns dez minuto...

SOBRE SEMELHANÇAS

Por muito tempo, busquei me encaixar em caixinhas. Pulava de uma para outra, mas nenhuma parecia servir. E assim segui, até o dia em que descobri que as caixas não existiam. Sempre pensei fora da caixa. Nunca enxerguei a vida do mesmo jeito que os outros. Olhava a fórmula de matemática na lousa, seguia todos os passos que a professora ensinara e, adivinha? O resultado era o mesmo, mas, para mim, sempre faltava uma etapa. — Volte para sua mesa e refaça como ensinei. Assim dizia a professora. Assim vivi por muito tempo. Décadas. Quando entendi que pensar fora da caixa era simplesmente ver o mundo de um jeito diferente, senti alívio. E esse alívio veio num diálogo entre meu marido e eu, logo após sair do teste de neurodivergência. A pergunta era simples: — Você precisa me dizer quais são as semelhanças entre as palavras que eu falar, certo? — Certo. — Orelha e olhos. Minha resposta: — Ambas estão no rosto. A resposta do meu marido: — São sentidos humanos — audição e visão. Mesma pergun...

Sobre escrever:

 Escrevo nesse blog, desde 2008. Acho que nunca tive algo tão duradouro, do que essa plataforma. São mais de dezesseis anos escrevendo, escrevendo e escrevendo. Colocando pensamentos no "papel" e extravasando o coração.  Lembro que para escrever aqui, meus dedos coçavam. Eu tinha uma imensa fome da escrita. Colocar em palavras o sentir. Tentar, de alguma forma, expor o que se passava no mais profundo da minha alma, entretanto, a rotina, a vida adulta, os deveres, soaram mais forte. Fui engolida pelo cotidiano, pela correria da vida adulta, pela performance e por jurar que não sabia fazer isso. Mesmo sendo formada para. Mesmo vendo tantas pessoas serem tão menos "viventes" nessa área. Acredito que quando a gente coloca empecilho demais em algo é porque estamos perto de consegui-lo.  Na realidade, o sentimento que está à porta é o medo. É ele que ecoa nesses momentos. O medo de escrever, o medo de ser lida, de ser compreendida... O medo do "e agora?" a verda...

Métrica

 Quanto tempo se leva até você descobrir o que quer ser, de fato, na vida? Eu já quis muitas coisas dentro desses trinta e dois anos. Quis ser jornalista, quis ser roteirista, quis ser fotógrafa, quis ser professora.  A única coisa que me falta realizar é ser escritora. Mas não precisa escrever muitos livros para ser, certo? O que faço aqui já é escrever algo.  Já é expor o meu "eu-lírico" para as pessoas. A grande questão é que não existe métrica para calcular a escrita.
 Hoje acordei com saudades de escrever, de novo. E hoje o dia está propicio para isso: cinzento, nublado, melancólico. Na playlist do Spotify, estava tocando só as bandas emos da minha adolescência. Foi um mergulho na adolescência, nos sonhos antigos e nos amores frustrados. É engraçado a gente voltar às velhas músicas, porque o contexto é totalmente diferente agora. Parece que não se encaixa mais - e de fato, é pra isso acontecer-. Já não sou mais a mesma, já morri e renasci, mas os gostos ainda são os mesmos.

Apanhado II

 Cinco anos se distancia de um texto ao outro: Uma pandemia. Quase dois anos isolados. Uma perda significativa na família. Um nascimento não esperado, mas que encheu a casa de alegria. Uma nova Aurora, um novo tempo, muitos aprendizados. Outra perda na família. Agora a conexão com o antepassado não existe mais. Só nas lembranças, só restou as memórias. Já não existe a casa dos avós, só resta dos pais, que agora já  não são mais só meus pais, são avós da minha filha. Quanta mudança em pouco tempo. Mais amadurecimento profissional, mais estudos, novos trabalhos, Tempo de ficar recolhida, crises, terapia Quantas mudanças em tão pouco tempo, que mais me parecem uma eternidade. E MEU DEUS, que saudade!  que saudade de escrever. de colocar no papel não apenas um amontado de palavras, mas de sentimentos!

Apanhado I

 Quanto tempo estive longe das letras a verdade é que as uso com frequência, mas não mais com o mesmo propósito, muito menos com o mesmo entusiasmo infantil. Agora a vida requer um pouco mais de pés nos chãos, cabelos grisalhos e talvez uma xícara de café ao lado  do computador. É notória a falta de prática; as palavras parecem não brotar mais com a mesma força, nem a mesma intensidade como vinha antigamente. Agora existe muito mais razão, do que emoção nas palavras muita mais teoria, do que a prática. A verdade é que envelheci. Não 10, mas 100 anos por dentro. A vida encheu-se de vivências, de perdas, de dores, e também, de cor, novos sabores, novos amores, muita vivência. a verdade é que a página não está mais em branco.